MINHA HISTÓRIA - PARTE 1

Eu me chamo Cristina, tenho 22 anos e esta é a minha história. Não é uma história extraordinária, na verdade acho bem comum. E também não é uma história com final. Mas é a minha história. É a história que eu vou te contar. 

Eu praticamente nasci em um berço cristão, já que apesar de o meu pai não ir a igreja, a minha mãe vai desde que eu tinha menos de 2 anos de vida e sempre levou a minha irmã e a mim. Eu cresci em uma família que é quase toda evangélica. Tive livrinhos infantis com histórias da bíblia além dos habituais contos de fadas, música gospel sempre foi o tipo de música mais tocada na minha casa, domingo era dia de culto, eu dormia durante os cultos quando era pequenininha, participei de todos os eventos de dia das crianças, dos pais, das mães e tudo mais. Também cantava na igreja desde que tinha uns 3 ou 4 anos e participei do grupo das crianças, pré-adolescentes e jovens. Pedir para minha mãe orar quando eu sentia alguma dor (em vez de tomar um remédio ou "só" tomar um remédio) era normal. Cumprimentos como "a paz do Senhor" sempre foram rotineiros e familiares. A gente responde "amém" (aprende aí hahaha). Eu vi minha mãe ser batizada nas águas de um rio quando ainda estava grávida da minha irmã caçula. Eu me batizei de livre, espontânea e enorme vontade aos 14 (quase 15) anos - dia14 de setembro de 2008. Eu desejei no futuro fazer parte do grupo de louvor da igreja. Eu podia ver isso acontecendo na minha mente. Eu podia ver a minha vida eternamente ligada a Deus e a uma comunidade cristã.

Mas, algumas vezes, durante a minha infância e adolescência eu também desejei não ser cristã. Eu fiquei brava quando tinha 7 anos porque a minha mãe não deixava eu usar batom escuro. Até passei escondido na escola e justamente naquele dia ela teve que voltar sei lá para que e me viu com um batom vermelho discretíssimo na boca hahahaha. Claro que eu levei uma bronca quando cheguei em casa. Eu fiquei brava por ter o tamanho do meu short controlado e por não poder ir para a balada quando todas as minhas colegas de escola começaram a ir e eu ficava fora dos assuntos. Não entendia porque eu nunca poderia beber nem vinho, por exemplo, em um jantar romântico porque contém álcool e a cobrança de me casar virgem. 

Eu amava Deus e gostava muito da igreja. Eu tive momentos com Deus, eu fui tocada. Mas não entendia muitas coisas. E eu sempre fui muito questionadora. Eu não queria apenas seguir regras que não entendia. Existiam tantas perguntas que ninguém conseguia me responder (ou pelo menos as pessoas para quem eu perguntava). Eu me sentia tão insegura quanto a tudo que fui ensinada, às vezes. E isso foi um problema na minha vida. 

Eu fiz 16 anos e no segundo ano do ensino médio conheci uma pessoa. Um cara mais velho e muito legal. Inteligente, carismático, sensível. Nós nos demos extremamente bem desde o começo e descobrimos muitas coisas em comum, Nós nos apaixonamos e pela primeira vez na vida eu me envolvi com alguém. E nós começamos a namorar.

Ele não era cristão.

Na época eu participava do grupo de jovens da igreja e era secretária da escola dominical. Se eu fiquei insegura e refleti sobre se deveria namorar alguém que não tinha a mesma fé que eu? Sim. Se eu me senti confusa, chorei, tive medo e ao mesmo tempo vontade apesar dos pesares? Sim. Se eu pedi conselhos para alguém em quem eu confiava e que pertencia a minha fé? Sim, também. E fiquei livre para tomar a decisão final que realmente só cabia a mim. E decidi tentar. Afinal, se não desse certo, eu poderia terminar. Não era um casamento. 

O relacionamento começou. Ele não entendia porque eu tinha que ir a igreja todos os domingos e às vezes as quartas-feiras também. Ele chegou a me acompanhar em um ou dois cultos, mas não tinha a mesma fé e interesse que eu. Eu conseguia perceber que ele se sentia deslocado e entediado. Ele só queria me agradar. Ele era espírita. 

Não demorou muito tempo para essas diferenças espirituais começarem a saltar no nosso namoro e dificultarem as coisas. Ele se sentia trocado ou deixado de lado pela igreja. Achava que eu considerava meus compromissos na igreja mais importantes que ele. E fora a questão espiritual, eu nunca tinha me relacionado com ninguém, então eu realmente acho que era um pouco individualista e imatura. Eu sempre tive muito medo de abrir o meu coração para alguém. E mesmo namorando demorei para fazer isso totalmente. Mas, aos poucos fui me abrindo.

Os dias passavam e o sentimento, importância e intimidade aumentavam. A gente conversava e ele questionava os princípios da minha fé. Fazia perguntas que eu não sabia responder e outras nas quais eu nunca tinha nem pensado. Ao mesmo tempo me dava respostas muito inteligentes e convincentes para essas questões de acordo com o que ele acreditava. Isso me chacoalhou. O que eu era e o que eu acreditava nunca tinha sido tão confrontado assim na minha vida. Eu me sentia perdida. Comecei a me perguntar se tudo que eu tinha aprendido a minha vida toda era realmente verdade ou se tinham me ensinado a interpretar as coisas de um jeito totalmente deturpado. Meu Deus. Seria possível eu ter vivido uma mentira por toda a minha vida? 

Só para deixar claro. A existência e o amor de Deus nunca foram colocados em dúvida para mim. Deus existia. Deus era amor. Mas, todas as regras impostas a mim durante a minha vida perderam o sentido. Aparentemente não passavam de besteira. De repente "Conhecereis a verdade e a verdade vos liberta-rá"(João 8:32) ganhou um novo sentido para mim. Eu estava livre. Eu podia fazer o que eu quisesse. "Uau, finalmente entendi o que a bíblia quer dizer." eu pensava. "Como fui inocente durante toda a minha vida. Mas, agora eu tô sabendo das coisas."

Foi aí que eu decidi sair do grupo de jovens da igreja, deixar a escola dominical e passei a ir nos cultos cada vez menos até não ir mais. Enquanto tudo isso acontecia, a relação do meu namorado e da minha mãe, que antes era boa, foi se deteriorando até os dois quase não se suportarem. Eu me sentia entre a cruz e a espada. Mas, na minha cabeça, é claro que a minha mãe é que estava sendo exagerada porque ainda via as coisas da forma como tinha me ensinado a vida toda e eu já tinha me libertado, mas ela não. Eu tentava explicar para ela minhas novas crenças, conceitos, repetia as mesmas perguntas que ele me fazia e ela ficava louca com isso. 

Mas, depois que "a igreja" deixou de ser um problema, outros problemas foram aparecendo, aumentando, dificultando... e o relacionamento piorando. Até que eu perdi a minha identidade. Eu já não acreditava nas mesmas coisas, não vivia da mesma forma, não era mais a garota segura de si que eu era no início do relacionamento, antes de entregar meu coração por completo. Meus sonhos e planos para o futuro estavam totalmente atrelados àquela pessoa. Eu já quase não orava ou adorava a Deus. Quando pegava a bíblia para ler, eu a via como um livro quase comum, que eu lia colocando tudo em dúvida e querendo todas as respostas, como se fosse um livro de ciências. Mas, na minha cabeça, isso estava sendo muito inteligente da minha parte, Eu me tornei muito ciumenta e insegura. Parecia que eu só cometia erros no relacionamento e nada do que nós dois fizéssemos melhorava as coisas. Embora nunca tenhamos nos desrespeitado verbalmente ou fisicamente, discutíamos muito e isso tornava a nossa vida extremamente cansativa.

Não estou dizendo que ele era um vilão e eu uma vítima. Não. Nós eramos duas pessoas com vidas diferentes que tentavam dar certo juntas, mas não davam. Então depois de quase um ano, terminamos definitivamente por algo que foi a gota d'água, uma traição da parte dele.


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